domingo, março 04, 2007

Narita #78 - 03.03.2007

Bem vindos a bordo de mais uma viagem com partida dos estúdios da Rádio Universidade de Coimbra até ao Japão. Todas as semanas embarcamos numa hora de imagens sonoras do país do Sol Nascente e esta semana fizémos literalmente essa viagem pela geografia e paisagem do Japão acompanhados por algumas das melhores propostas da electrónica ambiental nipónica.
Partida do terminal 107.9. Aeroporto internacional de Tóquio – Narita!

Localizado na Costa Leste da Ásia, o Japão é um arquipélago que compreende mais de três mil ilhas, sendo as principais as de Honshu, Sehikoku, Kyushu e Hokkaido. Esta semana, passámos por algumas das maravilhas naturais e não só da ilha que, entre estas quatro maiores, se localiza mais a norte – a ilha de Hokkaido. Esta ilha é a terra natal da raça aino, povo que, para além da ilha de Hokkaido se dispersa ainda por outros territórios asiáticos como as ilhas Curilhas e Sacalina, territórios russos.
Sendo a segunda maior ilha do território japonês, a heterogeneidade paisagística é considerável e a riqueza natural imensurável. Contando com seis parques nacionais e doze circuitos de reservas naturais, este território é um verdadeiro santuário natural, razão pela qual existem tantas florestas protegidas em Hokkaido.

E foi pela costa norte que começámos este passeio pela ilha. Entrámos no Japão pela península de Shiretoko, uma zona da ilha de Hokkaido extremamente montanhosa, à semelhança de grande parte do território japonês. O nome surge do idioma do povo aino, significando “Extremidade de Terra”, e é exactamente na extremidade nordeste da ilha que encontramos esta península à qual o acesso só é possível por via marítima ou aérea. Aproveitámos a viagem a bordo de Narita para pairar um pouco mais sobre Shiretoko, enquanto avançámos para Sul pela costa…

As costas de Hokkaido são banhadas pelas correntes frias do mar de Okhotsk, o que propicia um clima bastante frio e seco. Por esta razão, houve necessidade de intervenção humana em alguns locais da paisagem de modo a proteger tanto as pessoas como as plantações do tempo agreste. Visitando Nakashibetsu-cho, é possível observar as árvores quebra-vento dispostas em quadrados de 3 a 4 quilómetros de comprimento. Esta plantação de árvores largas estende-se por 648 quilómetros e permite que a população desta área produza grandes colheitas. Vista do ar, esta zona da ilha apresenta-se como um imenso padrão quadriculado em tons de verde. Diz-se que é visível inclusivamente do espaço, mas não precisámos de subir até tão altas altitudes para seguirmos para o nosso próximo ponto de paragem…

Grande parte do território da ilha de Hokkaido é ocupado por zonas naturais protegidas. É o caso da nossa terceira paragem nesta viagem – sobrevoámos o Pântano de Kushiro, a primeira área no Japão a ser incluída na Convenção de Ramsar sobre Zonas Húmidas. Com uma área próxima dos 20 mil hectares, esta é uma das zonas húmidas maiores do Japão, território de paragem de imensas espécies de aves, como a garça japonesa de crista encarnada. Incluído num dos parques naturais do Japão, o de Kushiro Shitsugen, este pântano é um autêntico santuário natural, ao qual o acesso é restrito. Todos os viajantes do Narita podem, no entanto, visitar esta zona através do nosso blog e das imagens que acompanham este itinerário de voo. Virámos depois para o interior da ilha, e chegámo-nos mais perto de outro dos ex-libris de Hokkaido, o vulcão ou monte Meakandake.



Nas proximidades de Ashoro, uma cidade com cerca de 8500 habitantes, encontra-se um dos muitos vulcões activos do Japão, o Monte Meakandake. Apesar da pacífica convivência entre esta formação geológica e a cidade que fica aos seus pés, as frequentes erupções do Monte Meakandake trazem por vezes consequências a nível da paisagem. Tal foi o caso da erupção que provocou o aparecimento à superfície de um rio que acabou por gerar um lago de incríveis águas azuis. O povo aino chamou a este lago On’neto, o que significa literalmente “lago dos nossos pais”. Numa perfeita simbiose natural, o lago é rodeado de vastas e verdejantes florestas, povoadas de inúmeras espécies vegetais e animais, tornando-o numa paragem obrigatória para os amantes da Natureza. Um acidente topográfico curioso ou o modo que o planeta teve de esculpir mais uma bela pintura na paisagem de Hokkaido? Independentemente da opinião, este é mais um dos locais de incrível património natural de Hokkaido, que merece a visita do Narita desta semana, uma viagem que se realizou no mesmo dia em que se comemorou no Japão o Hina Matsuri, ou Festival das Bonecas. Este festival, como hoje é conhecido, teve o seu início no Período Edo (Séc. XVII a XIX) e destinava-se a comemorar o dia das raparigas. As famílias celebram esta data para desejar às raparigas um crescimento saudável e feliz. O Hina Matsuri também é conhecido como Momo no Sekku (Festival do Pêssego) ou Sangatsu no Sekku (Festival de Março). Uma efeméride a marcar a passagem de Narita por Hokkaido, na mesma noite em que o território luso assistia a um eclipse lunar…

E quase a chegar ao final da viagem pela ilha de Hokkaido houve tempo ainda para mais uma paragem que, como não poderia deixar de ser, é um parque natural. Localizado nas imediações da cidade com o mesmo nome, o Parque Takinoue é uma reserva onde as cascatas e os vales se entrecruzam formando padrões de extrema beleza. Nos meses de Maio e Junho, ou seja, durante a Primavera, as colinas deste parque ganham um brilho ainda mais especial, cobrindo-se de um tom rosa-escuro. Este fenómeno ocorre há quase 50 anos, altura em que neste parque foram plantados cem mil metros quadrados de um tipo de pequenas e rasteiras plantas chamadas floxes, cuja florescência apresenta um característico tom rosado. Uma vez que estas plantas florescem todas ao mesmo tempo, a chegada da Primavera a Takinoue pinta a paisagem de cor de rosa, uma atracção visual que está na origem da Festa do Flox, uma celebração em que é possível, por exemplo, sobrevoar o parque de helicóptero e apreciar os tapetes florais. Aproveitámos a boleia e aterrámos esta viagem em Hokkaido. Voltamos a voar para a semana com novos destinos no país do sol nascente. Até lá, nós por cá, e por lá, no Japão, despedimo-nos, desejando-vos boas viagens com a RUC!

01. Tomoyasu Takanishi – Eyot
02. Marqido – Percussion
03. Kitaro – Koi
04. Somei Satoh – Mantra
05. Merzbow – Ambient Study For Kinbaku-Bi Part 5
06. Mamoru Fujieda – Duct Chant
07. Toshiya Tsunoda - A Singboard, Wind–Blown

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