Para esta viagem, a tripulação de Narita reservou um destino um pouco mais distante que o habitual: abrimos um buraco no contínuo espácio-temporal, pegámos no velhinho gira-discos e viajámos até às primeiras décadas do século XX para ouvir um dos géneros musicais mais tradicionais do Japão: a música Enka.
Partida do terminal 107.9, aeroporto internacional de Tóquio, NARITA.
Com as suas origens entre a Era Meiji e a Era Taisho, a música Enka começou por ser uma forma de tornar os discursos de desacordo político mais atractivos, sendo assim utilizada como forma de protesto. Um dos primeiros estilos a aliar as melodias ocidentais aos sons japoneses, a música Enka revelou-se uma eficaz forma de os líderes dos partidos políticos do Japão do final do século XIX fazerem sair a sua mensagem para as ruas, numa altura em que não lhes era permitido falar em público. Actualmente, este cariz político desvaneceu-se na música Enka, mas ainda permanece a popularidade do género. Na viagem de hoje, recuamos no tempo e partimos da década de 20 do século passado para uma viagem através da história da música Enka.
01. Sato Chiyako – Beniya no Musume
02. Sato Chiyako – Tousei Ginza Bushi
03. Tokuyama Tamaki & Yotsuya Fumiko – Tengoku ni Musubu Koi
O Enka, literalmente significando “canção interpretada”, é basicamente canção de balada, que combina a música moderna ocidental com um sabor claramente japonês. Apesar de já não ser utilizado como instrumento para o activismo político, foi este uso como propaganda que esteve na génese da sua forma lírica. Já no que toca aos instrumentos utilizados, o Enka reúne mais uma vez ocidente e oriente, misturando guitarras e instrumentos de orquestra com os instrumentos tradicionais japoneses, nomeadamente o shamisen, o koto e o taiko.
04. Kouta Katsutaro – Musumegokoro
05. Miss Columbia – 19 no Haru
06. Nakano Tadaharu - Tabigarasu
O tipo de composição musical usado no Enka é bastante específico. Para começar, a escala utilizada, chamada “yonanuki onkai”, é pentatónica, ou seja, utiliza apenas cinco notas musicais por oitava ao contrário das habituais sete na música ocidental. Existe uma certa separação de escalas no que toca ao género do intérprete: para as vozes masculinas geralmente é utilizada a “yonanuki” maior, com tons mais quentes e apaziguantes; já no que toca às interpretações destinadas a vozes femininas usa-se a “yonanuki” menor com os seus tons mais emocionais.
07. Matsudaira Akira – Tone no Funauta
08. Matsushima Utako & Shouji Taro – Sore mo Omoide
09. Otomarusan – Senro Kawarya
10. Akasaka Koume – Asama no Kemuri
Com o passar dos anos, o sentido de protesto político na música Enka foi-se desvanecendo, podendo inlcusivamente falar-se de um segundo período em que a música Enka se torna mais popular e menos interventiva, coincidindo com o período do pós-guerra e a Era Showa. As letras tornam-se mais nostálgicas, falando dos tempos felizes e muitas vezes expressando o desejo de voltar à terra natal. As gerações mais velhas recordam ainda a vida num país dividido pela guerra, onde a comida e o dinheiro faltavam; estas foram as mesmas pessoas que se viram obrigadas a mudar do campo para as cidades no pós-guerra e, apesar de grande parte das vezes o Enka retratar uma saudade de um passado idealizado, é no Enka e nas suas alusões a uma vida rural e difícil, nas suas letras saudosas e melancólicas, que estas gerações se revêem. Muitos dizem que este apelo às gerações mais velhas como que congelou o Enka e está a conduzir ao seu desaparecimento. No entanto, este género, como ao longo de todo o século XX, continua a ser um dos mais característicos do Japão e a manter um vasto auditório, um pouco à semelhança do fado em Portugal.
11. Tabata Yoshiro – Shima no Funauta
12. Watanabe Hamako – Soshuu Yakyoku
Um símbolo do Japão, a música Enka faz parte da identidade nipónica há décadas e, tal como muitos outros aspectos da vida no país do Sol Nascente, também começa a cativar a atenção e a curiosidade dos ocidentais. Estando na base da maioria dos actuais géneros musicais japoneses, muitos estudiosos de música têm-se debruçado sobre o Enka, mas não só. Apesar de realmente ser na generalidade muito mais apreciada pelas pessoas mais velhas, a música Enka tem sido comparada por muitos com outros géneros ocidentais que também sonorizam a tristeza, como o fado, os blues ou até a música country. Actualmente, continuam a existir bastantes intérpretes da música Enka, apesar da grande quebra de vendas de discos de Enka na década de 90. São estes músicos que perpetuam a arte de cantar a beleza da tragédia, do sofrimento e da perseverança. Os tempos imaginados de antigamente continuam então na memória colectiva do Japão, através dos sons nostálgicos que se fazem continuar a ouvir.
13. Itsuki Hiroshi – Fuyuno Hotaru
14. Yuki Saori - Tegami
Para o final desta viagem, aterrámos já no século XXI, com algumas das composições contemporâneas de Enka. Voltamos a voar para a semana, na noite de Sábado a partir das 21h. Até lá, nós por cá, e por lá, no Japão, despedimo-nos, esperando que esta viagem ao passado e à história da música Enka tenha sido do vosso agrado.
Sayounara!
Partida do terminal 107.9, aeroporto internacional de Tóquio, NARITA.
Com as suas origens entre a Era Meiji e a Era Taisho, a música Enka começou por ser uma forma de tornar os discursos de desacordo político mais atractivos, sendo assim utilizada como forma de protesto. Um dos primeiros estilos a aliar as melodias ocidentais aos sons japoneses, a música Enka revelou-se uma eficaz forma de os líderes dos partidos políticos do Japão do final do século XIX fazerem sair a sua mensagem para as ruas, numa altura em que não lhes era permitido falar em público. Actualmente, este cariz político desvaneceu-se na música Enka, mas ainda permanece a popularidade do género. Na viagem de hoje, recuamos no tempo e partimos da década de 20 do século passado para uma viagem através da história da música Enka.
01. Sato Chiyako – Beniya no Musume
02. Sato Chiyako – Tousei Ginza Bushi
03. Tokuyama Tamaki & Yotsuya Fumiko – Tengoku ni Musubu Koi
O Enka, literalmente significando “canção interpretada”, é basicamente canção de balada, que combina a música moderna ocidental com um sabor claramente japonês. Apesar de já não ser utilizado como instrumento para o activismo político, foi este uso como propaganda que esteve na génese da sua forma lírica. Já no que toca aos instrumentos utilizados, o Enka reúne mais uma vez ocidente e oriente, misturando guitarras e instrumentos de orquestra com os instrumentos tradicionais japoneses, nomeadamente o shamisen, o koto e o taiko.
04. Kouta Katsutaro – Musumegokoro
05. Miss Columbia – 19 no Haru
06. Nakano Tadaharu - Tabigarasu
O tipo de composição musical usado no Enka é bastante específico. Para começar, a escala utilizada, chamada “yonanuki onkai”, é pentatónica, ou seja, utiliza apenas cinco notas musicais por oitava ao contrário das habituais sete na música ocidental. Existe uma certa separação de escalas no que toca ao género do intérprete: para as vozes masculinas geralmente é utilizada a “yonanuki” maior, com tons mais quentes e apaziguantes; já no que toca às interpretações destinadas a vozes femininas usa-se a “yonanuki” menor com os seus tons mais emocionais.
07. Matsudaira Akira – Tone no Funauta
08. Matsushima Utako & Shouji Taro – Sore mo Omoide
09. Otomarusan – Senro Kawarya
10. Akasaka Koume – Asama no Kemuri
Com o passar dos anos, o sentido de protesto político na música Enka foi-se desvanecendo, podendo inlcusivamente falar-se de um segundo período em que a música Enka se torna mais popular e menos interventiva, coincidindo com o período do pós-guerra e a Era Showa. As letras tornam-se mais nostálgicas, falando dos tempos felizes e muitas vezes expressando o desejo de voltar à terra natal. As gerações mais velhas recordam ainda a vida num país dividido pela guerra, onde a comida e o dinheiro faltavam; estas foram as mesmas pessoas que se viram obrigadas a mudar do campo para as cidades no pós-guerra e, apesar de grande parte das vezes o Enka retratar uma saudade de um passado idealizado, é no Enka e nas suas alusões a uma vida rural e difícil, nas suas letras saudosas e melancólicas, que estas gerações se revêem. Muitos dizem que este apelo às gerações mais velhas como que congelou o Enka e está a conduzir ao seu desaparecimento. No entanto, este género, como ao longo de todo o século XX, continua a ser um dos mais característicos do Japão e a manter um vasto auditório, um pouco à semelhança do fado em Portugal.
11. Tabata Yoshiro – Shima no Funauta
12. Watanabe Hamako – Soshuu Yakyoku
Um símbolo do Japão, a música Enka faz parte da identidade nipónica há décadas e, tal como muitos outros aspectos da vida no país do Sol Nascente, também começa a cativar a atenção e a curiosidade dos ocidentais. Estando na base da maioria dos actuais géneros musicais japoneses, muitos estudiosos de música têm-se debruçado sobre o Enka, mas não só. Apesar de realmente ser na generalidade muito mais apreciada pelas pessoas mais velhas, a música Enka tem sido comparada por muitos com outros géneros ocidentais que também sonorizam a tristeza, como o fado, os blues ou até a música country. Actualmente, continuam a existir bastantes intérpretes da música Enka, apesar da grande quebra de vendas de discos de Enka na década de 90. São estes músicos que perpetuam a arte de cantar a beleza da tragédia, do sofrimento e da perseverança. Os tempos imaginados de antigamente continuam então na memória colectiva do Japão, através dos sons nostálgicos que se fazem continuar a ouvir.
13. Itsuki Hiroshi – Fuyuno Hotaru
14. Yuki Saori - Tegami
Para o final desta viagem, aterrámos já no século XXI, com algumas das composições contemporâneas de Enka. Voltamos a voar para a semana, na noite de Sábado a partir das 21h. Até lá, nós por cá, e por lá, no Japão, despedimo-nos, esperando que esta viagem ao passado e à história da música Enka tenha sido do vosso agrado.
Sayounara!
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